domingo, 20 de junho de 2010

As origens do Cristianismo no Ocidente



Quando, no fim do século V, os reis bárbaros se estabeleceram definitivamente na Gália, eram já cristãs as populações galo-romanas, que então passaram para o seu domínio. De fato, o cristianismo tinha penetrado na Gália romana desde meados do século II. As relações comerciais que união Lion e Marselha aos portos da Ásia Menor tinham permitido a entrada nestas grandes cidades mercantis a apóstolos vindos do oriente. A célebre carta, datada de 171, que refere a perseguição atroz, em que comunidades cristãs de Lion e de Viena, atesta a existência, nesta época, de várias comunidades prósperas e fervorosas.


Daí por diante, nunca mais o catolicismo deixou de se expandir, principalmente nas cidades. A multiplicação dos bispados, a partir do século III, é um dos sinais mais certos desta expansão. A evangelização das aldeias, que se conservavam pagãs até meados do século IV, foi levada a efeito pelo fecundo apostolado do grande Bispo de Tours, São Martinho. A fundação de numerosas freguesias rurais permitiu o desenvolvimento e a organização da conquista cristã no Ocidente europeu.


Três reis bárbaros repartiram entre si o território da Gália, após o desaparecimento do Império romano do Ocidente(476): ao sul do Loire, e até à Espanha, Alarico II, rei dos visigodos; no vale do Ródano, Gondebaldo, rei dos Burgundos; ao norte, e até ao Sena, Clóvis, rei dos Francos. Os dois primeiros professaram um cristianismo degenerado e herético, o arianismo, que o seu povo tinha abraçado, ainda antes da invasão da Gália. Clóvis era pagão.


O batismo do rei dos Francos teve importância capital para o futuro do Ocidente. O historiador Gregório de Tours (século VI) compara Clóvis a Constantino, e com razão. Constantino tinha reunido o Império romano ao catolicismo. Com Clóvis começa a reunião dos Estados bárbaros à fé ortodoxa. Desde o princípio do século VI, perdeu terreno não só o paganismo, mas também a heresia ariana. Clóvis, primeiro ”rei cristianíssimo”, aparece às populações católicas dos reinos arianos, como um libertador, e é assim que se explica a rapidez dos êxitos subsequentes , contra os burgundos e os visigodos (derrota de Alarico em Pointers, em 507). Os próprios reis arianos acabarão por abjurar a heresia. No fim do século VI, Recaredo, rei dos visigodos de Espanha, passa ao catolicismo, enquanto, na Itália, a rainha católica Teolinda, esposa do rei Antáris, e depois, de Agilulfo, prepara os caminhos à conversão do reino lombardo. Estava ali, em germe, a cristandade ocidental da Idade Média.


Por Joseph Lecler



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