terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O termo Pré-História


Até os dias de hoje ainda utilizamos uma divisão reconhecida pela Historiografia mais tradicional, que foi resultante de uma percepção política da Europa do século XIX, que definiu a divisão da História em cinco “Idades” distintas: Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Portanto, torna-se inegável a influência do eurocentrismo na nossa formação.

Nas enciclopédias e dicionários o termo “Pré-História” é definido como sendo o período anterior à existência de registros escritos. Ela está dividida em Idade da Pedra (Paleolítico, Mesolítico e Neolítico), Idade do Bronze e Idade do Ferro. Sendo uma das fontes de evidências sobre as sociedades pré-históricas a Arqueologia.

Considerando-se que a Pré-História abrange o período da história dos seres humanos em que a escrita ainda não havia sido concebida, sendo que este fato ocorreu por volta de 4000 aC, podemos verificar que a pré-história é o maior período da história da humanidade e, que numa escala temporal, abrange cerca de 95% do tempo total do surgimento dos primeiros hominídeos que se tem conhecimento, ou seja, há cerca de 4,5 milhões de anos atrás.

Segundo as palavras de Lucien Febvre: “A história faz-se, sem dúvida, com documentos escritos. Quando os há. Mas pode fazer-se, deve fazer-se, sem documentos escritos, se estes não existirem”. Portanto a afirmação de muitos historiadores de que a denominação “Pré-História” é equivocada, está corretíssima, visto não existir uma anterioridade à História, mas sim ao surgimento da escrita, além de que tudo o que existe, faz e tem uma história, independente dela ser registrada ou não.

Quando ainda não existia um sistema de escrita, através do qual as pessoas pudessem transmitir a sua história, elas tinham de guardar na memória uma grande quantidade de coisas e transmiti-las oralmente para as gerações futuras. Podemos imaginar o quanto era difícil e nada prático tal situação.

Para os antigos mercadores deveria ser um grande transtorno controlar os estoques e as entregas sem poder anotar os pedidos, por tudo isso, tal necessidade deve ter sido o fator principal para que os sumérios, moradores da região onde se localiza hoje o Iraque tenham inventado a linguagem escrita.

Como mencionado acima, acredita-se que a escrita, a maior inovação da civilização urbana, surgiu da necessidade de se registrar as transações comerciais. Temos informações que os primeiros textos encontrados na Mesopotâmia, e que retrocedem ao 4º milênio antes de Cristo, são recibos que representam apenas símbolos e números.

A escrita cuneiforme, surgida na suméria, era feita com pequenos bastões de junco pelos escribas em pequenas placas de argila molhada com cortes em forma de cunha. Depois de gravadas, as placas de argila eram expostas ao sol para secar. Estes escribas tornaram-se os guardiões dos templos-arquivos, responsáveis pelas bibliotecas de placas de barro onde eram anotados os detalhes das finanças do templo.

Se compararmos as formas da escrita moderna com a escrita cuneiforme, poderemos constatar a dificuldade desses traçados, porém eles significaram um avanço real na vida cotidiana. A escrita cuneiforme passou a ser utilizada além dos interesses comerciais, também para conservar tradições religiosas, que logo passaram a constituir os livros sagrados, registrar costumes socais e códigos legais, transmitir mitos e histórias, que originaram a História e a Literatura.

Pouco tempo depois surgiu uma escrita pictográfica, ou seja, as figuras representavam as palavras que se queriam exprimir, e com o passar do tempo os símbolos passaram a ser usados para indicar sons.

Certamente, a escrita foi uma das mais grandiosas invenções humanas. Com o surgimento dela foram fechadas as cortinas da “pré-história” e deu-se início à história da humanidade como alguns preferem se referir.

Sem dúvida, a escrita é um elemento fundamental de todas as civilizações evoluídas, pois foi através dela que a comunicação foi facilitada e se tornou compreensível. Através dela viabilizou-se o sentido cumulativo do conhecimento humano ao tornar possível o registro de informações dos mais diversos.

Com a criação da escrita, o homem passou a registrar sua história, escrevendo sobre o seu dia a dia, redigindo documentos e compondo suas narrativas e epopéias, porém não podemos deixar de lembrar que tão valiosa quanto à invenção da escrita foi a medição do tempo e a criação do calendário.

Pela definição de Luiz Koshiba: a escrita é utilizada como critério para distinguir a História da Pré-História, sem que isso implique um juízo de valor; o seu domínio não torna as sociedades históricas necessariamente superiores às pré-históricas. Ela deve isso sim, ser vista como manifestação de uma profunda transformação das sociedades humanas.

Ao invés do termo “Pré-História”, usado para designar o período anterior a criação da escrita, poderia ser utilizada a expressão: “Primórdios da História”, ficando aqui registrada, por escrito, a minha sugestão.

Homem, sociedade e cultura


Até o século XIX era opinião comum entre os estudiosos que a espécie humana havia surgido na face da Terra há poucos milhares de anos. Considerava-se para tal, que Deus criara o homem pouco tempo antes do início da História, ou seja, aproximadamente 5 mil anos, através dos documentos escritos dos sumérios e egípcios.

Através de numerosas e exaustivas escavações, os arqueólogos e os paleontólogos estabeleceram que a Terra foi colonizada pelo Homo Sapiens e que todas as pessoas tem raízes ancestrais na chamada “Eva Africana” ou “Eva Mitocondrial” cuja existência presume-se ser de 150 mil anos atrás. Esse nome advém do fato do DNA mitocondrial ter sido passado pela mãe para os seus descendentes em todas as gerações.

Logo, sabemos que a África foi o ponto de partida e, que todo ser humano atual é descendente de um pequeno grupo de homens modernos que deixando o continente africano, por volta de 60 mil anos atrás passaram a se espalhar e a explorar o nosso planeta.

Apesar de ainda viverem como caçadores-coletores, alguns desses grupos começaram, há aproximadamente 12 mil anos atrás, a dominar os recursos alimentares através da agricultura. Esses grupos perceberam que sementes germinavam quando eram jogadas na terra. Segundo o historiador Edward M. Burns, não se pode determinar com exatidão onde se originou a agricultura e, que as gramíneas bravas, prováveis antepassados dos cereais, foram encontradas em numerosos lugares.

Foi grande a transformação operada nas condições humanas pelo surto da agricultura, afirma H. G. Wells: “antes da agricultura, o homem era um errante animal de preia que usava instrumentos, um animal selvagem e relativamente raro sobre a superfície da terra. Vivia em pequenos grupos e suas únicas posses eram os objetos que conduzia”.

Depois que as plantas passaram à tutela do homem e a produção cresceu, parte do excedente obtido passou a ser usado na alimentação dos animais. A agricultura e a criação de animais contribuíram para o surgimento de pequenos agrupamentos de caçadores-coletores que acabaram por originar as primeiras comunidades agrárias de habitações feitas de tijolos de que se tem conhecimento.

É bem verdade que as primeiras vilas agrícolas constituíam-se de caóticos amontoados de casas de tijolos de barro, separadas por estreitos espaços entre elas, porém o inicio da atividade agrícola provocou a reorganização do que podemos classificar como as primeiras sociedades. Esses assentamentos permanentes e os novos estilos de vida contribuíram para o estabelecimento das primeiras comunidades sedentárias e o início da religião e do culto.

O barro onipresente das planícies aluviais do sul da Mesopotâmia foi o material com que se construiu a primeira civilização do mundo. Era moldado em blocos retangulares de tamanho uniforme, não era usado apenas na construção de casas e muros, com o barro molhado e cozido produziam-se utensílios para cozinhar e armazenar alimentos e, as figurinhas de argila, encontradas pelos arqueólogos, de seres humanos e animais, representavam as imagens que os primeiros escultores tinham do mundo ao seu redor.

Visto ser o homem um ser social, este procurou constituir um lar onde pudesse contar com o apoio necessário para sobreviver. Portanto, uma das mais antigas e importantes instituições humanas é a família.

Com a constituição da família e o consequente surgimento de novas mãos para o trabalho agrícola surgiu a necessidade de se fabricar potes para armazenar os excedentes produzidos. O artesanato de potes e vasilhas, em grande parte, era obra das mulheres. Além da cerâmica, a fabricação de tecidos, usando-se o linho, a lã e o algodão eram de iniciativa do sexo feminino. Para os homens competiam as tarefas de caçar, pescar, cuidar dos rebanhos, confeccionar ferramentas e armas e preparar os campos para o cultivo.

O trabalho era realizado coletivamente tanto homens como por mulheres, porém a mulher tinha um papel de extrema importância para a sobrevivência da comunidade: ela era responsável pelo nascimento de novos membros que fariam aumentar o número de habitantes.

Por volta de 4000 aC, a vida nas aldeias estava fortemente consolidada no sudoeste e no leste da Ásia. Comunidades agrícolas se ampliaram e se organizaram. Na medida em que as aldeias cresciam e se tornavam mais complexas, eram estabelecidas novas formas de comunicação entre os membros da comunidade e os de outras regiões.

Existem grandes variedades de culturas humanas, cada uma com a sua forma de organização que lhe é peculiar. Em comparação com as eventuais alterações biológicas do homem, na sua história, as culturas assumem formas variadas e se alteram com grande rapidez. As culturas se diversificam, enriquecem, acumulam e tornam-se complexas, assim como também podem se extinguirem ou serem extintas.

Brasil e seu passado (pré) histórico


O Brasil não tem pré-história, o Brasil tem história anterior ao seu descobrimento. Segundo os cientistas, continua sendo difícil estabelecer uma história coerente sobre a (pré) história do Brasil. Além do amplo período de tempo, que poderá se estender até 50 mil anos, a área de pesquisa é muito vasta estendendo-se da Amazônia até os Pampas Gaúchos e do Nordeste ao nosso Pantanal.

Estudiosos e especialistas, em sua maioria, norte-americanos, afirmavam até o final dos anos 90 que a ocupação do continente americano era compatível com o denominado “Modelo Clovis”, ou seja, que o homem teria ocupado as terras americanas há não mais de 11.400 anos.

Porém, segundo estudos realizados, o povoamento do continente americano e, consequentemente, o Brasil, ocorreu aproximadamente ao final da última glaciação, ou seja, no término do Pleistoceno. As culturas provenientes deste período são comprovadamente anteriores há 12 mil anos AP.

Surge daí o embate entre os norte-americanos, propagadores do chamado modelo Clovis e os demais pesquisadores. Ao defenderem este modelo, a comunidade arqueológica estadunidense, ignora duas importantes informações que desde os anos 70 fazem parte do dia a dia dos arqueólogos sul-americanos: a primeira informação é de que em vários sítios arqueológicos na América do Sul encontram-se plenamente comprovadas datações no mínimo tão antigas quanto as da cultura Clovis e a segunda informação é de que tanto na América Central quanto na América do Sul não foi encontrado em nenhum sítio paleoíndio qualquer sinal das pontas acanaladas ou da exploração especializada da megafauna extinta como recurso alimentar.

Em se tratando de Brasil, segundo Ana Roosevelt, a presença de seres humanos na floresta amazônica é de aproximadamente 11.300 anos. Tal afirmação parte de suas pesquisas realizadas no abrigo de Pedra Pintada na cidade de Monte Alegre, no estado do Pará, e também na ilha de Marajó.

Continuando nosso retrocesso na (pré) história do Brasil, podemos citar os artefatos de pedra retocados pelo homem encontrados no sítio arqueológico de Lapa do Boquete, no norte do estado de Minas Gerais, cuja datação remonta há aproximadamente 12 mil anos. Ainda no tocante a objetos lixados e polidos pelo homem, foram encontradas em escavações realizadas em Mato Grosso no ano de 1984, pelo casal Denis e Águeda Vialou, pingentes de ossos lixados e polidos pelo homem fornecendo datas de sua presença em até 25 mil anos.

Porém o sítio arqueológico brasileiro que mais causou polêmica é o do Boqueirão da Pedra Furada, localizado na Serra da Capivara, no município de São Raimundo Nonato, no sudoeste do Piauí. Foi em uma gruta que Niéde Guidon encontrou, além de centenas de pinturas rupestres, pedaços de carvão que podem ter sido resultantes de uma fogueira acesa há mais de 50 mil anos. É bem verdade que grande parte da comunidade cientifica não aceita tal datação partindo do pressuposto de que os pedaços de carvão encontrados por Niéde Guidon são provenientes de queimadas naturais e não de fogueiras feitas pelos antigos caçadores primitivos.

No sítio arqueológico de Lapa Vermelha IV, em Pedro Leopoldo, no estado de Minas Gerais, entre os anos de 1974 e 1976, uma Missão Arqueológica Franco-Brasileira, liderada por Annette Lamming-Emperaire, obteve evidências de que haveria a presença de homens no Brasil anterior a 11 mil anos. Annette e sua equipe de arqueólogos encontraram o crânio de uma mulher, que anos mais tarde, seria batizada com o nome de Luzia.

A surpresa não esta relacionada a antiguidade do achado, pois segundo as datações, Luzia teria morrido há cerca de 11.500 anos, se enquadrando dentro da hipótese Clovis mencionada no inicio deste trabalho, esta relacionada ao estudo liderado por Walter Neves em 1988 e que caiu como uma bomba sobre as interpretações tradicionais sobre o povoamento da América.

Segundo muitos arqueólogos, e principalmente os norte-americanos, os primeiros homens que teriam chegado ao continente americano foram os mongóis, denominação dada aos grupos originários da Ásia Central. Estes grupos teriam passado pelo Estreito de Bering, no Alasca, há cerca de 11 mil anos.

Walter Neves, após ter estudado o crânio encontrado no sítio arqueológico de Lapa Vermelha, constatou que o fóssil tinha características físicas mais próximas dos povos oriundos da África e da Austrália do que da Ásia. Neves e seus colaboradores também concluíram que havia ocorrido outra onda migratória para as Américas pelo Alaska, porém há pelo menos 15 mil anos.

Em 1999, foi feita uma reconstituição da face do crânio de Luzia pelo Dr. Richard Neave, da University of Manchester, na Inglaterra, e que mostrou de forma complementar e independente aos estudos realizados por Walter Neves, que Luzia apresenta morfologia diferente dos ameríndios atuais, sendo mais semelhante aos indígenas australianos ou africanos.

Há muito que se descobrir e se estudar sobre a (pré) história do Brasil, e a arqueologia é a fonte de conhecimento que permitirá reconstituir a história dos nossos primitivos habitantes. Certamente os vestígios descobertos através das escavações darão testemunho da origem e da evolução da cultura dos povos que viveram em nosso território antes da chegada de Pedro Álvares Cabral.

Homem (Pré) Histórico ou Índio




Para alguns estudiosos no assunto, os indígenas brasileiros, muito provavelmente se fixaram no que é hoje chamado Brasil, no estado neolítico, ou seja, encontravam-se inseridos no grupo de menor desenvolvimento cultural, inclusive desconhecendo a escrita.

No final do século XV, quando os europeus chegaram a América, encontraram com povos em diferentes estágios de evolução.  Por um erro, os habitantes do Novo Mundo foram chamados de índios, por terem sido julgados pertencerem a Índia. Procurou-se corrigir o equívoco, dando-lhes o nome de ameríndios e às novas terras de Índias Ocidentais.  Os ancestrais desses “índios” haviam se estabelecido no continente através de diversificadas ondas migratórias.

Calcula-se que, quando Pedro Álvares Cabral chegou ao litoral do Brasil, aqui encontrou vivendo em torno de 6 milhões de “índios”. A terra encontrada pelos portugueses em 22 de abril de 1500 refletia um grande cenário de natureza exuberante e quase virgem.  Porém, já se encontrava habitada. Os especialistas, tomando por base os estudos de Karl von den Steiner, consideram a existência de quatro grandes nações: tupis-guaranis, jês, caribes e aruaques, e vários grupos menores.

O próprio nome Brasil, dado pelos portugueses em função das árvores que existiam em grande abundância pelo litoral e que passou a ser o principal produto comercial nos trinta primeiros anos após a sua chegada, não existia para os diferentes grupos que aqui viviam.  Para uns aqui é Pindorama, a terra das palmeiras, já para outros, é Piratininga, assim por diante.  A nação de um índio é a sua terra, é a área que ele vive com o seu povo.

Segundo o mito das várias tribos Timbira, do grupo Jê, que habitam o sul do Maranhão e o norte de Goiás, diz que “antigamente não havia civilizados, mas apenas índios”.  Este “antigamente” vai muito além do que possamos imaginar, visto que as informações arqueológicas que dispomos nos permite dizer que há mais de 11 mil anos atrás grupos humanos já habitavam a parte sul-americana do que hoje chamamos de Brasil. Tal afirmativa parte de machados, martelos de pedra, pedaços de cristal de quartzo e ornamentos de conchas encontradas na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais.

Contrariando o nosso primeiro parágrafo, segundo alguns especialistas, o desenvolvimento cultural dos habitantes do Brasil antes do descobrimento foi muito maior do que a maioria dos brasileiros possa imaginar. Segundo o artigo de Pablo Nogueira, os índios brasileiros, antes da chegada de Cabral, usavam roupas, praticavam comércio e tinham grandes e complexas aldeias.

Ainda, segundo Pablo Nogueira, novas pesquisas em história, arqueologia, botânica e ecologia apontam para aldeias com grande extensão, chegando algumas terem quilômetros de extensão e populações que beiravam a soma de milhares.  Continuando o relato, alguns habitantes usavam roupas e faziam expedições comerciais trocando produtos a centenas de quilômetros de distância e até às vezes alteravam a vegetação da floresta.  

Tal afirmação não surgiu do nada, ela parte de árduos estudos e pesquisas realizadas pelo historiador Antônio Porro, da Universidade de São Paulo, que durante duas décadas esmiuçou documentos sobre a história desses índios escrita pelos mesmos europeus que nos séculos  XVI e XVII, navegaram pelo Rio Amazonas em busca de terras e tesouros mitológicos, como o El Dorado, e que mais tarde os levariam à ruína.  Tais expedições não encontraram as riquezas lendárias, e acabaram por trazer preciosos relatos sobre o que encontraram.

Porém existem teses contrárias que segundo os arqueólogos mais tradicionais, a existência de grandes sociedades nativas seria impossível e não passariam de exagero, na melhor das hipóteses, dos relatos dos viajantes.

Esta visão não é recente, vem desde os anos de 1960, quando esteve em nosso país a arqueóloga americana Betty Meggers. Ela escreveu um livro: “Amazônia: Homem e cultura num falso paraíso”, através do qual argumenta que por não serem fáceis as condições de vida na floresta tal situação impedira o surgimento de grandes populações nativas.  Segundo ela os primitivos habitantes (índios) não possuíam chefia centralizada e nem habitavam por muitos anos num mesmo lugar.

Entretanto, conforme descreveu Michael Heckenberger: “a chefatura marajoara, que floresceu na ilha de Marajó de cerca de 400 dC até 1300 dC, pode ter sido a mais desenvolvida das sociedades que habitavam a várzea”. É especialmente reconhecida por sua elaborada cerâmica pintada e pelos sambaquis maciços construídos à mão, sobre os quais se erguiam aldeias e cemitérios com urnas.  Explorações recentes, em particular as pesquisas dirigidas pela arqueóloga Anna Roosevelt, demonstraram que essa cerâmica elaborada, do tipo Horizonte Policrômico, apareceu primeiro na foz do rio Amazonas e depois se espalhou para oeste, contrariando a hipótese anterior segundo a qual teriam derivado de civilizações andinas.

Completamente segregados na imensidão das florestas, os “índios” brasileiros não lograram nunca obter alto padrão de cultura como o dos Incas, Maias e Astecas, porém dentro de suas limitadas condições conseguiram passar para as gerações futuras o seu legado, principalmente no que se refere à alimentação, no asseio (banhos no rio) e na presença constante de elementos linguísticos indígenas na toponímia, dentre outros.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sabe com quem está falando?
Um ensaio sobre a distinção entre indivíduo e pessoa no Brasil




Roberto DaMatta, este grande estudioso dos hábitos e costumes do nosso Brasil, procura neste capitulo do seu livro, fazer uma análise do tão conhecido brado: “você sabe com quem está falando?”

A pergunta “você sabe com quem está falando?” é uma ação extrema e corrompida do famoso “jeitinho brasileiro”, e até certo ponto antipática que surge quando determinado cidadão que possui algum tipo de relacionamento com alguma figura importante, que goza de importância ou status social, seja ele político, militar, governamental ou mesmo civil (advogado, médico, etc.), se acha no direito de citar em seu favor esta sua relação ou familiaridade para ultrapassar algum obstáculo, e com essa atitude agir com violência contra a possível repressão por ele sofrida, gerando uma situação conflitante, embaraçosa e desconfortável.

Percebemos na narrativa dele, dilemas entre autoritarismo, hierarquia e violência existentes na sociedade brasileira, e a busca de um ambiente harmônico, democrático e sem conflitos. Como toda situação de embate e disputa, existe um estado de tensão entre os protagonistas que conduz a uma série de rituais e mitos dramatizando as principais alternativas para a solução do problema.

O autoritarismo e a hierarquia da nossa sociedade, segundo Roberto DaMatta, esta definido em dimensões distintas, uma delas é a existência de uma ordem formal apoiada no status e no prestígio social bem delimitado, onde todos sabem o lugar que ocupam e onde não se verifica conflitos. Já a outra consiste na existência da oposição entre o “mundo das pessoas”, socialmente reconhecidas com seus privilégios e direitos, e a esfera igualitária dos indivíduos, onde as leis impessoais são usadas como objeto de controle e submissão.

No texto existem “dois mundos” que não se misturam entre si: o mundo da casa e o mundo da rua. No mundo da casa, em geral reina a igualdade, a paz e a harmonia, em contraste como mundo da rua, onde os indivíduos brigam constantemente pela vida. No mundo da rua, as pessoas se utilizam do status das pessoas das classes dominantes para conduzirem e reduzirem os indivíduos às leis: “para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”. Perante a lei todos são iguais, hierarquicamente não, pois a lei é subjetiva, eis a questão.

Ele relata diversos episódios nos quais as pessoas se favorecem do status de outras pessoas para se favorecerem, reduzirem ou colocarem no seu devido lugar certos indivíduos supostamente usurpando o direito delas. Menciona também que você “sabe com quem esta falando?” poderá ser utilizado por inferiores estruturais que se utilizam da posição de seu patrão ou comandante para inferiorizar outro indivíduo que, em comparação, seria igual.

Ao utilizar-se do artifício da célebre frase aqui discutida, o individuo que se considera agredido passa a ser o agressor, deixando de ser desconhecido e mais fraco e tornando-se mais conhecido e mais forte. Vemos que tal expressão permite passar de um estado a outro: do anonimato a uma posição de reconhecimento; de uma posição igualitária a uma posição hierarquizada, ou seja, estabelece a pessoa onde antes se encontrava um indivíduo, pois somente os indivíduos frequentam as delegacias, os tribunais, as filas nos hospitais públicos.

DaMatta relaciona a violência urbana e os meios de transportes. Na época em ele escreveu este ensaio, a figura do bandido, dono do morro ou da “comunidade” em que ela domina não estava tão definida como atualmente está, o que certamente o levaria a relacioná-lo em seu estudo, pois se alguns anos atrás a pergunta “sabe com quem está falando”, remetia à pessoas de “alto grau” de cultura e poder, hoje em dia poderá ser utilizada como forma de intimidação por parentes, amigos ou integrantes de quadrilhas de marginais ou de contraventores, que ao se aproveitarem de sua proximidade com esses chefões tentam obter privilégios pessoais sobre os outros indivíduos que compõem a nossa atual sociedade.

O Modernismo brasileiro e a Semana de Arte Moderna





Concebido sob as influências das vanguardas europeias, o Modernismo no Brasil combateu, em sua Primeira Fase (1922-1930), o tradicionalismo e o conservadorismo existente na literatura e nas artes brasileiras, procurando difundir a liberdade de linguagem e a afirmação de novos valores estéticos. O modernismo foi um movimento literário e artístico cujo objetivo era romper com o tradicionalismo, representado pelo parnasianismo, o simbolismo e a arte acadêmica.


No Brasil um grupo de artistas, dentre eles podemos destacar, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e Mario de Andrade, buscavam romper com a submissão aos padrões europeus criando uma arte que fosse genuinamente brasileira. Eles criticavam o passadismo e o realismo, que na visão deles, limitavam a criação. Eles propunham o verso livre da rima e da métrica e, por exemplo, podemos citar a “Paulicéia Desvairada” de Mário de Andrade. A pintora Anita Malfatti também expos seus quadros, em São Paulo, provocando grande polêmica. Toda essa agitação cultural vai se confirmar na Semana de Arte Moderna.


É bem verdade que o modernismo brasileiro não começou em 1922, pois desde 1912, após retornar da Europa, Oswald de Andrade começa a delinear as mudanças nas artes brasileiras e que culminaria nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 com a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, onde são lidos poemas e manifestos, quadros e esculturas são expostos e músicas são executadas, diante de um público que reagiu com vaias e protestos. Estava, assim, inaugurado o período de combate contra os valores sólidos do parnasianismo contra o qual combatiam os primeiros modernistas.


Terminado o evento, o movimento modernista golpeou as estruturas conservadoras das artes brasileiras, a este período foi dado o nome de “fase heroica”, porém, a Semana de Arte Moderna manteve a continuidade no processo de renovação artística. O Modernismo não foi apenas um movimento em si mesmo e acabou por ser um deflagrador de outros movimentos tais como: o Antropofágico, o Pau-Brasil e o Verde-Amarelo, foi sem dúvida, uma explosão de cultura nacional.


A Segunda Fase do Modernismo (1930-1945), também conhecida como Fase da Consolidação, foi caracterizada pelo predomínio da prosa e da ficção. Os ideais difundidos em 1922 se expandem e se normalizam, surgem as temáticas nacionalistas e percebe-se um amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase. Surgem nesta fase novos poetas, dos quais podemos destacar Carlos Drummond de Andrade.


Alguns estudiosos consideram a fase iniciada no ano de 1945 até os dias atuais como sendo Pós-Modernista, no entanto compreendemos o período entre os anos de 1945 e 1960 como sendo a Terceira Fase do Modernismo e, como Tendências Contemporâneas o período posterior aos anos 60 até os nossos dias.


Como definido por Mário de Andrade, o que caracterizou o movimento modernista foi a fusão de três princípios fundamentais e que podem ser definidos como sendo os três pilares do modernismo brasileiro: o direito permanente à pesquisa estética, a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional. Podemos dizer que a principal herança deixada pela Semana de Arte Moderna foi a de quebrar as correntes que prendiam a arte brasileira aos padrões nada criativos dos europeus, dando inicio a construção de uma nova cultura baseada essencialmente nos padrões nacionais.

sexta-feira, 22 de junho de 2012


A Crise de 1929



Ao final da Primeira Guerra Mundial os Estados Unidos da América do Norte assumiram a hegemonia econômica mundial e passaram a ser os grandes credores do mercado internacional.

Seus empréstimos e suas mercadorias ajudaram a reconstruir a Europa devastada pela guerra e foram de grande importância tanto para os países vencedores como, também, para os vencidos.

Porém a euforia causada pela grande produção em massa devido ao elevado consumo interno e as exportações para mercado externo, começou a dar sinais de queda em meados do ano de 1920.  A franca recuperação da Europa fez diminuir as importações dos produtos agrícolas norte-americanos, levando muitos agricultores à falência nos EUA.

Apesar da redução das importações dos produtos industrializados, as grandes indústrias norte-americanas não reduziram a sua produção, causando um acumulo de estoques desses produtos sem que houvesse compradores.

Com a crise de superprodução e a falta de consumo, as empresas começaram a demitir os trabalhadores e, como consequência direta, as ações dessas empresas na bolsa de valores começaram a cair.  Os donos dessas ações preocupados com a desvalorização crescente procuraram vendê-las o mais rápido possível, fazendo com que o preço dessas ações despencassem, o que provocou no dia 24/10/1929 a quebra da Bolsa de Valores de Nova York.

A Grande Depressão propagou-se por outros países que mantinham relações comerciais com os EUA.  Um dos poucos países que escaparam da crise foi a URSS, cuja economia estatal obedecia a um rígido controle e planejamento e não às leis de mercado como nas economias capitalistas.

Os Estados Unidos retiraram seus capitais e investimentos dos países Europeus, e o país mais prejudicado foi a Alemanha, pois a sua economia dependia diretamente dos capitais estadunidenses.

Em 1933 ao assumir a presidência dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, pôs em prática a política de intervenção do Estado na economia, contrariando a política liberal adotada até então.  Ele lançou um plano que ficou conhecido com New Deal, que tinha por objetivo retirar o país da depressão através de várias ações por parte do governo em conjunto com a iniciativa privada.  Dentre os vários objetivos desse novo acordo, a elevação da renda dos trabalhadores era de grande importância, pois faria com que o poder de compra das pessoas aumentassem às vendas no comércio.


domingo, 17 de junho de 2012


Formação Histórica do Brasil



Considerado por muitos como sendo um dos seus principais trabalhos, o livro Formação Histórica do Brasil é uma obra de revisão histórica que segundo o seu autor, Nelson Werneck Sodré, interpreta a história brasileira sob um novo ângulo: à luz do materialismo histórico.

Nelson Werneck, historiados e cientista marxista, foi o pioneiro na aplicação do materialismo histórico dialético como método para a compreensão da realidade social no Brasil.

Ainda, segundo o autor, os portugueses encontraram no Brasil uma comunidade primitiva, ou seja, fomos descobertos na primeira fase do nosso processo histórico e a obra dos colonizadores portugueses levou à montagem de um sistema escravista monocultor em nosso país.

De acordo com o paradigma marxista do autor, ao escravismo dominante nos primeiros séculos de existência do Brasil, teria ocorrido uma espécie de feudalismo ou semifeudalismo, versão contestada por alguns historiadores seus contemporâneos, e causa      de discórdia entre Nelson e outros interpretes.

 Para ele o Brasil conheceu o feudalismo, ele afirmou em seu livro, que uma relação feudal é definida pelo laço de dependência estabelecido entre dominante e dominado. Ele descreve que ao longo da história brasileira a concentração de terras e o patriarcalismo estabeleceram laços de dependência entre os senhores e os escravos, e que no seu entender, se assemelhavam aos laços feudais de servidão.

No capitulo que trata da colonização do Brasil, Nelson Werneck nos fala sobre as diferenças entre o oriente e a América portuguesa.  Apesar de não haver comparação econômica e comercial, o Brasil passou a merecer atenção de Portugal a partir da expectativa de riquezas minerais e por causa da concorrência de navios de outras nações que freqüentavam a costa brasileira contrabandeando pau-brasil e colocando em risco a soberania lusa.

Portugal sente necessidade de povoar o novo território e escolhe a cultura da cana-de-açúcar para dar início a ocupação do solo e cujo comércio lhe garantisse retorno financeiro no mercado europeu.  Eles se utilizam a princípio do trabalho indígena e mais tarde dos escravos negros africanos.

Segundo Nelson Sodré, a riqueza do senhor de engenho media-se muito mais pelo número de escravos que possuía do que pela extensão da sua propriedade. A estrutura da produção colonial no Brasil se definiu como sendo o predomínio da grande propriedade rural, monocultura açucareira e produção escravista.

Enquanto houve interesses comerciais entre a Coroa portuguesa, os holandeses e os senhores de engenho tudo funcionou sem maiores perturbações.  Porém em 1580, Portugal e suas colônias de ultramarinas passaram para o domínio da Coroa espanhola, e a partir daí tudo começou a mudar: espanhóis e holandeses eram concorrentes entre si, e mesmo após 1640, com a reunificação de Portugal, as relações com os holandeses foram se deteriorando e culminaram com a expulsão dos holandeses do Brasil.



Evolução Política do Brasil




Em seu livro Evolução Política do Brasil, publicado no ano de 1933, Caio Prado Junior, não se propõe a contar a História do Brasil, sendo apenas, como o próprio autor define, um ensaio sobre a nossa história.

Porém o que ele chama de ensaio tem um grande valor na historiografia brasileira, pois Caio Prado é um dos primeiro autores a se utilizar do pensamento marxista na análise dos acontecimentos desde o Brasil Colônia.

Logo no início da sua narrativa ele faz uma síntese do período Colonial, retornando à história de Portugal ele descreve como no século XV a burguesia comercial lusa se lança ao mar em busca de maiores lucros e menciona o apoio que esta mesma burguesia presta ao Mestre de Avis na conquista do trono português, conquistando desta maneira um lugar de destaque no novo reino.

Após permanecer nos primeiros trinta anos quase que abandonada, retirando-se dela apenas os troncos de pau-brasil, a nova terra passa a despertar maior atenção por parte da Coroa portuguesa que acaba por adotar a distribuição do território através das Capitanias Hereditárias.

Ele nós diz que, como tal regime não alcança o sucesso previsto, Portugal retoma as capitanias e resolve doar as terras para quem realmente tivesse cabedal suficiente para levar adiante a sua ocupação e desenvolvimento.

Caio Prado ao contrário de Nelson Werneck Sodré nega o cunho feudal do território brasileiro.  Ele explica como funcionou o sistema de distribuição de terras e a doação das sesmarias, pois é a partir dessa distribuição que se constrói a nossa sociedade colonial através da formação de grandes latifúndios monocultores e escravistas, deixando claro o caráter agrário exportador de nossa colonização.

Tal empreendimento latifundiário necessitava de mão-de-obra em grande escala e para isso empregou-se a princípio a escravidão indígena no cultivo da cana-de-açúcar, sendo substituído em seguida pela escravidão dos negros africanos.

No Brasil a pequena propriedade rural não obteve nenhum incentivo por parte da metrópole, e por isso os grandes latifúndios vão constituir a unidade econômica básica da Colônia, fazendo com que o senhor dos latifúndios a monopolizar as riquezas, ganhando prestígio e dominando os demais habitantes.  Nota-se aqui a concepção marxista, onde a economia define as coisas e dá origem a luta de classes. Os chamados “homens bons”, ou seja, os senhores de engenho eram os detentores do poder e exerciam o domínio sobre os poucos homens livres, os índios, os mestiços e os negros.

Caio Prado condena a ação dos bandeirantes nas chamadas “entradas”, classificando-as de caçada do homem pelo homem, onde os índios são aprisionados e forçados a trabalhar nas lavouras canavieiras. Ele também menciona que a Companhia de Jesus foi importante para deter tal movimento de captura, apesar deles mesmos servirem-se dos índios em seu próprio proveito nas chamadas reduções.

O autor trata rapidamente da escravidão africana, mencionando que os negros eram tratados como se fossem bestas pelos seus senhores.