terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O termo Pré-História


Até os dias de hoje ainda utilizamos uma divisão reconhecida pela Historiografia mais tradicional, que foi resultante de uma percepção política da Europa do século XIX, que definiu a divisão da História em cinco “Idades” distintas: Pré-História, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Portanto, torna-se inegável a influência do eurocentrismo na nossa formação.

Nas enciclopédias e dicionários o termo “Pré-História” é definido como sendo o período anterior à existência de registros escritos. Ela está dividida em Idade da Pedra (Paleolítico, Mesolítico e Neolítico), Idade do Bronze e Idade do Ferro. Sendo uma das fontes de evidências sobre as sociedades pré-históricas a Arqueologia.

Considerando-se que a Pré-História abrange o período da história dos seres humanos em que a escrita ainda não havia sido concebida, sendo que este fato ocorreu por volta de 4000 aC, podemos verificar que a pré-história é o maior período da história da humanidade e, que numa escala temporal, abrange cerca de 95% do tempo total do surgimento dos primeiros hominídeos que se tem conhecimento, ou seja, há cerca de 4,5 milhões de anos atrás.

Segundo as palavras de Lucien Febvre: “A história faz-se, sem dúvida, com documentos escritos. Quando os há. Mas pode fazer-se, deve fazer-se, sem documentos escritos, se estes não existirem”. Portanto a afirmação de muitos historiadores de que a denominação “Pré-História” é equivocada, está corretíssima, visto não existir uma anterioridade à História, mas sim ao surgimento da escrita, além de que tudo o que existe, faz e tem uma história, independente dela ser registrada ou não.

Quando ainda não existia um sistema de escrita, através do qual as pessoas pudessem transmitir a sua história, elas tinham de guardar na memória uma grande quantidade de coisas e transmiti-las oralmente para as gerações futuras. Podemos imaginar o quanto era difícil e nada prático tal situação.

Para os antigos mercadores deveria ser um grande transtorno controlar os estoques e as entregas sem poder anotar os pedidos, por tudo isso, tal necessidade deve ter sido o fator principal para que os sumérios, moradores da região onde se localiza hoje o Iraque tenham inventado a linguagem escrita.

Como mencionado acima, acredita-se que a escrita, a maior inovação da civilização urbana, surgiu da necessidade de se registrar as transações comerciais. Temos informações que os primeiros textos encontrados na Mesopotâmia, e que retrocedem ao 4º milênio antes de Cristo, são recibos que representam apenas símbolos e números.

A escrita cuneiforme, surgida na suméria, era feita com pequenos bastões de junco pelos escribas em pequenas placas de argila molhada com cortes em forma de cunha. Depois de gravadas, as placas de argila eram expostas ao sol para secar. Estes escribas tornaram-se os guardiões dos templos-arquivos, responsáveis pelas bibliotecas de placas de barro onde eram anotados os detalhes das finanças do templo.

Se compararmos as formas da escrita moderna com a escrita cuneiforme, poderemos constatar a dificuldade desses traçados, porém eles significaram um avanço real na vida cotidiana. A escrita cuneiforme passou a ser utilizada além dos interesses comerciais, também para conservar tradições religiosas, que logo passaram a constituir os livros sagrados, registrar costumes socais e códigos legais, transmitir mitos e histórias, que originaram a História e a Literatura.

Pouco tempo depois surgiu uma escrita pictográfica, ou seja, as figuras representavam as palavras que se queriam exprimir, e com o passar do tempo os símbolos passaram a ser usados para indicar sons.

Certamente, a escrita foi uma das mais grandiosas invenções humanas. Com o surgimento dela foram fechadas as cortinas da “pré-história” e deu-se início à história da humanidade como alguns preferem se referir.

Sem dúvida, a escrita é um elemento fundamental de todas as civilizações evoluídas, pois foi através dela que a comunicação foi facilitada e se tornou compreensível. Através dela viabilizou-se o sentido cumulativo do conhecimento humano ao tornar possível o registro de informações dos mais diversos.

Com a criação da escrita, o homem passou a registrar sua história, escrevendo sobre o seu dia a dia, redigindo documentos e compondo suas narrativas e epopéias, porém não podemos deixar de lembrar que tão valiosa quanto à invenção da escrita foi a medição do tempo e a criação do calendário.

Pela definição de Luiz Koshiba: a escrita é utilizada como critério para distinguir a História da Pré-História, sem que isso implique um juízo de valor; o seu domínio não torna as sociedades históricas necessariamente superiores às pré-históricas. Ela deve isso sim, ser vista como manifestação de uma profunda transformação das sociedades humanas.

Ao invés do termo “Pré-História”, usado para designar o período anterior a criação da escrita, poderia ser utilizada a expressão: “Primórdios da História”, ficando aqui registrada, por escrito, a minha sugestão.

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