Tudo começa em 25 de abril de 1974 às três horas da manhã, quando as ondas da radio oficial portuguesa despertam e, de repente, transmitem palavras e música de uma canção proibida pelo governo: “Grândola, terra morena, terra da fraternidade...” Em três horas 200 oficiais se apoderam do aeroporto de Lisboa, da rádio, dos edifícios oficiais. Depois exilam no Brasil o presidente Américo Tomás, o primeiro ministro Marcelo Caetano, e uma dúzia dos seus assessores ou amigos. Quase não há tiros. Quase não há sangue. Tudo é maravilhoso, simples, pacífico. Sob as aclamações e o olhar benevolente das tropas que têm um cravo nas armas, Lisboa passa às mãos de uma junta de 14 oficiais e 5 civis.
Um grande vento sacode a Europa, depois o mundo. O entusiasmo está no auge. Os portugueses passa, de repente, de um regime antiquado, austero, policial, colonialista, à “democracia”. Democracia tão liberal, unânime, e coerente na sua diversidade, que o exilado socialista Mario Soares chega em 48 horas de avião, depois de uma parada em Londres; Álvaro Cunhal, chefe do PC português, exilado há 12 anos em Moscou e Praga, chega em 36 horas mas tarde em avião especial e que um e outro abraçam Antônio Spínola, os oficiais e os civis presentes.
Todos prometem eleições livres e democráticas que entregarão o poder ao povo, antes de um ano. Não há mais censura na imprensa. Qualquer um pode tomar a palavra nas praças, nos estádios, nas rádios. Pura maravilha, este regime ao mesmo tempo nacional e socialista, militar e civil, misturando católicos, progressistas, comunistas, homens de negócio, economistas.
História Secreta das Organizações Terroristas. Otto Pierre Editores. 1979. Págs. 315 e 316.
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